Pausa

Quando era adolescente  fui assistir ao filme “ Irmão Sol, Irmão Lua”. São Francisco de Assis está mais na moda do que nunca e isso literalmente : ecológico e despojado, como diria uma amiga minha, direto da laje. Hoje, em um desses raros momentos em que nos permitimos pausas ( já dizia o poeta  que a vida precisa delas) pensei nessa pessoa que abre mão de tudo para seguir algo em que acredita. No caso, esse irmão Sol. Em que acreditamos hoje? No prêmio acumulado de 115 milhões de reais da Mega Sena? Que a mão coçando é presente na certa (como diz minha avó) ou uma micose (como vive dizendo minha filha)? Que o ideal é escalar pedras e se aventurar (convite de um filho destemido e natureba demais)? Como se despojar de roupas, de bens, como ter diante da vida uma atitude franciscana? Como sair do conforto do sofá velho e mudar? Como tirar essa segunda pele que gruda na gente e quanto mais o tempo passa, mais grudada ela fica com o nome de acomodação? Perguntas e mais perguntas. As pausas na vida são sempre reflexivas. E de repente alguém grita na redação. Aperto o play por algum tempo e depois volto a minha pausa, pois nela me encontro. No meu próprio céu, com sua lua e estrelas. No meu próprio sol, que ilumina quando a vida está tão difícil, que caímos no mais profundo do fundo do poço. Atitude! Coragem! É buscando nesse baú de memórias que percebo como é bom poder tentar tirar essa segunda pele. Como é bom poder lembrar do que um dia fomos e que ainda somos. Sou, na minha pausa, aquela adolescente encantada, sentada em uma sala de cinema vendo um história e pensando no que viria a seguir. O a seguir se foi , o cinema acabou, mas aquele momento ficou sem que eu nem percebesse. Me lembrei hoje, talvez porque seja  4 de outubro , de que  não somos santos e eu precise da lembrança  que,  apesar de  não sermos perfeitos,ainda podemos sê-lo. Acho que é uma questão de tentar e  se permitir. E olha que a minha pausa durou menos de dez minutos.

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” Fernando pessoa

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