Amigos e o apesar de


Estava aqui pensando nas pessoas que passaram pela minha vida, nos meus amigos. Essa nossa família que escolhemos por opção. Ela, às vezes,  também decepciona, mas ainda não existe lei que oficialize a ex-união, o ex-amigo, por isso temos que carregá-lo inteiro ou aos pedaços, como parte do que somos.

Amigos são pessoas que levamos por toda vida, mesmo quando deixam de ser amigos, mesmo quando crescem e deixam de ser aquela pessoa super bacana, para virar aquele ser que desconhecemos e que se tornou insuportável ( será que o pensamento é recíproco?). Alguns amamos tanto ou nos sentimos tão responsáveis pela existência que nos permitimos a desculpa do “apesar de”.

Como existem vários niveis de amizade ( o da intimidade, o da fofoca, o da diversão...) uns passam do primeiro nivel para o  “sei lá qual” . Outros vão crescendo de conceito até conquistar uma estrela, um diploma na parede. Mas, não importa. Em algum momento, essas pessoas foram o centro da nossa vida gravitacional ou vice-versa. Giramos em torno delas, ou elas , em torno de nós. Será sadio? Sei lá, talvez por isso estejam nesse nivel de nome tão esquisito. Talvez, como paixão e amor, a amizade também tenha seu momento paixão, aquele que passa e que às vezes vira amor, às vezes não. Amizade também é se permitir.

Os verdadeiros amigos são os que nos suportam e não desistem de nós. Que não vêem em nós a rabugice do tempo. Contraditório não? Talvez, porque pelo pouco que conheçamos de nós mesmos achamos, na nossa modéstia, que valemos a pena seja em qualquer nivel.

Se vivemos na mesma cidade ou em cidades diferentes, não importa, a distância não chega a nenhum ano-luz. O amigo de verdade é aquele que passado dez anos sem dar o ar da graça, faz com que o momento do reencontro tenha  sempre aquele ar de “não foi ontem que nos vimos?”. Temos sempre a mesma idade, o mesmo sonho, a mesma sintonia. Não existe tempo, porque nada que importa realmente mudou. Não tem ruguinha de expressão, ruguinha de idade, ruguinha de nada e muito menos rusgas. Existe a amizade da opção.

Outros amigos se perdem de nossas vidas mesmo morando na casa ao lado. A eles, eu sempre serei grata, porque me ajudaram a crescer e a ser o que sou, ou seja, um ser a ser adjetivado (fique a vontade). Sumiram. Casaram. Mudaram. Brigaram. Se foram de alguma forma. Outros fizeram apenas da solidão um refúgio e não um sentido de vida.

E é pelo tempo que temos nessa vida que levamos os amigos, estejam eles inteiros ou aos pedaços. São eles, o sentido do encontro com  nós mesmos. Representam o apesar de, o tempo que não passa, a vida que não envelhece, a alma sempre jovem e às vezes tão criança. E é a eles que  nos permitimos sempre abrir os braços e dizer  que bom que você existe, que bom que você é minha família, que bom que você é meu amigo. Eu sou Ana e me permito ter escolhas e amigos.

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