Onde me vejo

Há alguns anos, fiz  um desses cursos em que tentamos nos conhecer um pouco mais. Acredito que nem nós mesmos nos conhecemos profundamente. Também não nos conhece o companheiro, o terapeuta, o confessor, o guru, a mãe, o pai, o filho, o irmão ou o amigo. Na minha opinião, quem nos conhece de verdade é o nosso travesseiro, que sabe todos os nossos segredos, até aqueles que escondemos de nós mesmos, e que recolheu muitas de nossas lágrimas, de tristeza ou alegria. E o que é melhor, mesmo que brigue conosco, não vai nunca abrir a boca. Mas, sem o meu travesseiro, lá fui eu tentar descobrir o que eu era e acabei mesmo foi descobrindo o outro. Muito do que sou, vejo no outro. Muito do que digo, falo para o outro. Não me refiro ao outro que amamos ou  àquele que habita em nós, esse desconhecido que também fui procurar e que encontro aos poucos, dia após dia. Mas sim aquele outro, o outro-outro, que está ao nosso lado e percebemos ou ignoramos. Aquele com quem nos irritamos e, às vezes, chegamos a odiar. Estamos irritados ou odiando ao outro ou a nós mesmos? Aquele outro, que tem a mesma grama que a da nossa casa, mas que sem medo do lugar comum, tendemos a achar  sempre que é mais verde? Será que é influência da qualidade da água, do amor, das conquistas ou apenas do olhar que temos? Somos nós e somos eles. Me permitir me ver no outro é sempre a melhor parte. Aprendi a me ver no outro, com qualidades e defeitos, com a grama seca ou verde, com tempo bom ou ruim. Mais do que isso, me permiti  esse olhar. Uma boa lição. Todos os dias, tento exercitá-la um pouco, o que não faz de mim um ser humano melhor, mas que me ajuda a tentar ser. E quanto ao meu travesseiro? Coadjuvante ou protagonista, todos os dias ele também vai estar sempre lá.

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