Para os dois
Quando era pequena ela não atravessava a rua sozinha, nem mesmo para
comprar uma revista na banca da quadra. Ele sempre foi mais destemido,
não sei se porque chegou primeiro. Em uma fase, ela gostava de moda,
ele meio alternativo. Em outra, ela com seus cabelos compridos e ele
com seus dreads. Ela adora carne, ele é vegetariano. Ela não faz
questão de praticar esportes, ele
tem essa mania de subir pedras. Ela é cidade, ele é natureza. Para ela,
o não atravessar a rua, se transformou em um destemido atravessar o
mundo. Para ele, o ser destemido o levou a escalar alto a vida,
apesar de todas as previsões de mau tempo. Criados iguais, totalmente
diferentes, absolutamente amados. Meus filhos são assim opostos que se
completam e iguais que se respeitam. Não se preocupe se alguém que você conhece não
atravessar a rua, um dia essa pessoa pode surpreender com uma travessia que vai
muito além da coragem, a da independência. Não se preocupe com as quedas. Um dia elas podem se tornar uma escalada de desafios, um abrir de portas ou simplesmente virar horizonte.
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